Estima-se que em torno de 60% dos casos de infertilidade estejam correlacionados ao homem, tanto de forma independente quanto associados a algum outro fator feminino. Em relação às mulheres, a idade avançada é sem dúvida um dos pontos mais conhecidos, afetando de maneira drástica e progressiva as chances de sucesso dentro da reprodução. Recentemente, estudos têm mostrado que a idade do homem é mais importante do que se pensava e deve sim ser levada em conta ao avaliar as chances de sucesso de um casal que deseja ter um filho.
É de conhecimento geral exemplos de pais que geraram filhos tardiamente – como o famoso caso de Charles Chaplin que teve filho com 73 anos – sustentando a ideia de que o homem pode ser fértil mesmo em idade avançada. De fato, a produção dos gametas masculinos (espermatozoides) não cessa com o passar dos anos, diferentemente da mulher, que apresenta ao nascimento o número de folículos totais, sendo que a cada ciclo menstrual esse número diminui progressivamente, porém o que se observa é um declínio mais sutil.
No início de julho, um importante trabalho apresentado na 33ª Reunião Anual da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia (ESHRE, na sigla em inglês), em Genebra, Suíça, avaliou 19 mil ciclos de reprodução assistida de uma clínica em Boston, entre 2000 e 2014, para mostrar o impacto da idade masculina na taxa de nascimento de bebês concebidos por reprodução assistida. Este estudo liderado por Laura Dodge, do Centro Médico Diaconisa Beth Israel e da Escola de Medicina de Harvard, observou que a idade do homem somente não interferiu no sucesso da técnica quando as mulheres tinham entre 40 e 42 anos, sendo esse o grupo que apresentou as taxas mais baixas sucesso, reforçando o peso da idade da mulher para o resultado positivo. Por outro lado, o que se observou foi que mulheres com menos de 30 anos com parceiros entre 40 e 42 obtiveram decréscimo de sucesso em torno de 33% comparados à mulheres na mesma faixa etária e parceiros com idade entre 30 e 35 anos. Ou seja, o impacto da idade masculina é muito significativo para o sucesso da reprodução assistida, principalmente quando o tratamento é em mulheres com idade até 35 anos. Esse estudo, apesar de impactante, somente confirma o que diversos outros já haviam mostrado: o sêmen sofre alterações tempo-dependentes no trato reprodutivo masculino.
Diversas alterações nos parâmetros seminais já haviam sido correlacionados à idade avançada, dentre os quais podemos citar a quantidade (concentração), mobilidade (motilidade) e alterações na morfologia das células. O DNA dos espermatozoides também apresenta uma maior taxa de fragmentação, fato que pode ser uma das principais causas da redução da fertilidade. Estudos recentes sugerem que pais em idade superior a 40 anos apresentam uma maior chance de ter filhos com autismo. Embora ainda não se tenha um tratamento eficaz para interromper esses efeitos indesejados, levar uma vida saudável é sem dúvida a melhor escolha até para a saúde dos espermatozoides. Isso porque doenças crônicas como diabetes, a obesidade ou o stress, além de hábitos como o alcoolismo ou tabagismo, acabam causando uma desordem nos estímulos hormonais e no equilíbrio do organismo, afetando negativamente também os testículos.
Desta forma, a idade do homem é um fator fundamental para o sucesso das técnicas de reprodução assistida. A tendência atual de postergar o sonho de ter filhos pode levar a consequências negativas com o passar da idade, tanto da mulher quanto do homem, sendo de extrema importância que se faça um acompanhamento do casal visando aumentar as chances de sucesso.