A Organização Mundial de Saúde (OMS) publicou em 2023 o novo relatório sobre infertilidade no mundo. Cerca de 17,5% da população adulta, 1 em cada 6 em todo o mundo são afetados pela infertilidade1. Junto a isso, estudos têm mostrado que a fertilidade está caindo, como no de Levine e colaboradores, em 2022 demonstrou que a contagem de espermatozoides caiu, em média, 1,2% entre 1973 e 2018, de 104 para 49 milhões de espermatozoides/ml. E, desde o ano 2000, a velocidade de declínio aumentou para mais de 2,6% ao ano2.
Os cientistas acreditam que, além da gestação tardia, fatores ambientais como a exposição à poluição, metais pesados, consumo de produtos derivados de combustível fóssil e aos disruptores endócrinos podem estar diretamente envolvidos nesta queda.
Os disruptores endócrinos (endocrine disruptors, em inglês) são uma gama de substâncias químicas que interferem no sistema hormonal. Eles atuam no organismo humano por meio da imitação dos hormônios naturais (como o estrogênio). Dessa forma, ocorre um bloqueio da ação hormonal natural e uma alteração dos níveis de hormônios endógenos. Respirar o ar poluído pela queima de combustíveis fósseis e consumir, cotidianamente, produtos como cosméticos, materiais de construção, roupas, brinquedos e fármacos derivados desses combustíveis representa risco constante para a desregulação do sistema endócrino, com comprometimento dos testículos, ovários e da tireoide3.
Estudos demonstraram alterações nos parâmetros seminais, como redução na motilidade e aumento na fragmentação do DNA espermático4. Além de diminuir a reserva ovariana 5.
Os metais pesados alteram diversas funções reprodutivas em homens e mulheres e levar à diminuição da contagem de espermatozoides, motilidade, viabilidade e espermatogênese, desequilíbrio hormonal, atresia folicular, e atraso na maturação do oócitos, para citar alguns. Cádmio e chumbo estão entre os metais que foram o mais estudado por alterar os níveis hormonais e causar problemas de fertilidade 6.
As mudanças climáticas e o consequente aumento da temperatura no planeta também afetam a fertilidade, uma vez que os espermatozoides são vulneráveis aos efeitos das temperaturas elevadas, conforme visto em estudo de 2022, com prejuízo na concentração, motilidade e morfologia 7.
Estes dados são preocupantes e é urgente que medidas sejam tomadas! Equilibrar a aceleração do desenvolvimento com políticas públicas sustentáveis além de conscientizar a população o quanto a poluição afeta não só o ambiente, mas o indivíduo em si é de extrema importância.
Referências
- OMS alerta que 1 em cada 6 pessoas é afetada pela infertilidade em todo o mundo
- Temporal trends in sperm count: a systematic review and meta-regression analysis of samples collected globally in the 20th and 21st centuries
- Baixa fertilidade pode estar relacionada à poluição e ao consumo de derivados do petróleo
- Independent and combined effects of diethylhexyl phthalate and polychlorinated biphenyl 153 on sperm quality in the human and dog. Scientific Reports | (2019) 9:3409
- Dysregulation of steroid metabolome in follicular fluid links phthalate exposure to diminished ovarian reserve of childbearing-age women. Environ Pollut. 2023 Aug 1;330:121730
- The Effects of Toxic Heavy Metals Lead, Cadmium and Copper on the Epidemiology of Male and Female Infertility. JBRA Assisted Reproduction 2022;26(4):627-630
- The Impact of High Ambient Temperature on Human Sperm Parameters: A Meta-Analysis. Iran J Public Health. 2022 Apr; 51(4): 710–723.